Telma Weisz fala da alfabetização nas escolas públicas nas últimas décadas
Uma das maiores especialistas em alfabetização no Brasil trata das práticas escolares frágeis que não ensinam a ler e escrever, das mudanças no ensino nas últimas décadas e da qualidade da formação docente
Beatriz Santomauro (novaescola@fvc.org.br)
A responsabilidade de alfabetizar é apenas do professor dos anos iniciais ou de todos eles?
TELMA De todos eles. Sempre haverá novos gêneros e desafios de leitura à medida que se avança na escolaridade. Isso faz da alfabetização quase uma situação permanente. Apesar disso, no sentido de aquisição do sistema de escrita, ela é uma missão do professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Mas, se um aluno mais velho não dominar o conteúdo, a escola deve se responsabilizar pelo ensino dele. O trabalho tem de ser feito no contraturno ou durante as aulas regulares e por gente qualificada.
Por que no Brasil existe a separação entre letramento e alfabetização?
TELMA Não gosto do termo letramento, embora tenha ajudado a colocá-lo em circulação no passado. Ele foi apropriado de forma inadequada. O que se falava, na verdade, era de alfabetização em contexto de letramento. Mas muitas pessoas separaram os dois termos para chamar técnicas de codificação de alfabetização e a compreensão dos usos sociais da escrita de letramento. Encarar a aprendizagem do sistema de escrita como uma etapa técnica e independente do ingresso à cultura letrada é um equívoco. Uma deve andar sempre ao lado da outra.
Quais os maiores equívocos cometidos pelos alfabetizadores hoje?
TELMA Alguns têm uma visão estreita do processo, não sabem como incluir a análise dos textos nas atividades e acabam focados no trabalho para a aquisição do sistema (leia a reportagem). Outros não consideram o processo de aquisição do sistema na conquista da linguagem escrita. Essa integração não é visível a eles, que estão se apropriando do tema agora. Mas isso não é um problema. É parte do processo de aprendizagem pelo qual os educadores estão passando. É preciso um trabalho contínuo para que se aperfeiçoem.
As sondagens diagnósticas têm se popularizado, mas ainda dentro de diferentes perspectivas de alfabetização. Isso é um problema?
TELMA Não. Essa simultaneidade faz parte de qualquer processo de transição. Ninguém passa do estado de ignorância absoluta para o de sapiência total. Assumir que um professor está pronto para lecionar perfeitamente depois de formado é errado. Uma situação desse tipo só funcionaria com robôs, e não com seres humanos. Na teoria construtivista, as pessoas sempre se movem em direção ao conhecimento e ele não é um produto, e sim um processo. Fazer sondagens em sala de aula representa um avanço, mas elas são apenas um meio para avaliar até onde o aluno foi, se ele aprendeu ou não determinado conteúdo (leia a reportagem). De nada adianta se o educador faz um diagnóstico inadequado ou não usa os resultados dele.
Hoje, se voltasse a lecionar como alfabetizadora, o que faria diferente?
TELMA Tudo. Exceto ler histórias para a turma, o que fazia consciente de que ajudava de alguma forma. Na época, 50 anos atrás, eu não sabia nada sobre alfabetização. Nada mesmo, embora não concordasse com as ideias de alfabetizar com cartilhas, por exemplo. Para mim, isso sempre foi estranho e eu já considerava como as crianças pensam. Não me ocorria, no entanto, pedir que os alunos lessem a fim de avaliar o que eles sabiam. Quando olho para trás e me lembro do que aconteceu, sinto vergonha. Hoje, essa seria a primeira coisa que faria. Não parece óbvio? Para todos os efeitos, achava que nenhum dos estudantes sabia ler. E eu também não sabia ensinar... Talvez aquelas crianças tenham aprendido alguma coisa, mas se aprenderam foi graças a elas mesmas. É por isso que não ponho o dedo na cara dos educadores, não fico criticando só por criticar: eu já estive no lugar deles.
TELMA De todos eles. Sempre haverá novos gêneros e desafios de leitura à medida que se avança na escolaridade. Isso faz da alfabetização quase uma situação permanente. Apesar disso, no sentido de aquisição do sistema de escrita, ela é uma missão do professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Mas, se um aluno mais velho não dominar o conteúdo, a escola deve se responsabilizar pelo ensino dele. O trabalho tem de ser feito no contraturno ou durante as aulas regulares e por gente qualificada.
Por que no Brasil existe a separação entre letramento e alfabetização?
TELMA Não gosto do termo letramento, embora tenha ajudado a colocá-lo em circulação no passado. Ele foi apropriado de forma inadequada. O que se falava, na verdade, era de alfabetização em contexto de letramento. Mas muitas pessoas separaram os dois termos para chamar técnicas de codificação de alfabetização e a compreensão dos usos sociais da escrita de letramento. Encarar a aprendizagem do sistema de escrita como uma etapa técnica e independente do ingresso à cultura letrada é um equívoco. Uma deve andar sempre ao lado da outra.
Quais os maiores equívocos cometidos pelos alfabetizadores hoje?
TELMA Alguns têm uma visão estreita do processo, não sabem como incluir a análise dos textos nas atividades e acabam focados no trabalho para a aquisição do sistema (leia a reportagem). Outros não consideram o processo de aquisição do sistema na conquista da linguagem escrita. Essa integração não é visível a eles, que estão se apropriando do tema agora. Mas isso não é um problema. É parte do processo de aprendizagem pelo qual os educadores estão passando. É preciso um trabalho contínuo para que se aperfeiçoem.
As sondagens diagnósticas têm se popularizado, mas ainda dentro de diferentes perspectivas de alfabetização. Isso é um problema?
TELMA Não. Essa simultaneidade faz parte de qualquer processo de transição. Ninguém passa do estado de ignorância absoluta para o de sapiência total. Assumir que um professor está pronto para lecionar perfeitamente depois de formado é errado. Uma situação desse tipo só funcionaria com robôs, e não com seres humanos. Na teoria construtivista, as pessoas sempre se movem em direção ao conhecimento e ele não é um produto, e sim um processo. Fazer sondagens em sala de aula representa um avanço, mas elas são apenas um meio para avaliar até onde o aluno foi, se ele aprendeu ou não determinado conteúdo (leia a reportagem). De nada adianta se o educador faz um diagnóstico inadequado ou não usa os resultados dele.
Hoje, se voltasse a lecionar como alfabetizadora, o que faria diferente?
TELMA Tudo. Exceto ler histórias para a turma, o que fazia consciente de que ajudava de alguma forma. Na época, 50 anos atrás, eu não sabia nada sobre alfabetização. Nada mesmo, embora não concordasse com as ideias de alfabetizar com cartilhas, por exemplo. Para mim, isso sempre foi estranho e eu já considerava como as crianças pensam. Não me ocorria, no entanto, pedir que os alunos lessem a fim de avaliar o que eles sabiam. Quando olho para trás e me lembro do que aconteceu, sinto vergonha. Hoje, essa seria a primeira coisa que faria. Não parece óbvio? Para todos os efeitos, achava que nenhum dos estudantes sabia ler. E eu também não sabia ensinar... Talvez aquelas crianças tenham aprendido alguma coisa, mas se aprenderam foi graças a elas mesmas. É por isso que não ponho o dedo na cara dos educadores, não fico criticando só por criticar: eu já estive no lugar deles.
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